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15 abril 2009

Rimas de Um Coração Fungado em Tristeza



A tristeza funga em meu cangote
Com um hálito doce porém frio e forte
Um Zeppelin cheio de suspiros incabíveis em mim
Faz flutuar meu amor em alturas terríveis
E depois o deixa cair ao chão em dores horríveis

Coração mais que cadente
Mais que pedante, mais que pedinte
Pândego coração pandeiro
Ébrio coração falante
Sóbrio coração ouvinte

Máquina manca e empenada
Encostada na quarta-feira de cinzas
No canto da escada
Em meio a ruínas

Para o lado esquerdo do corpo
Para os dois lados do riso
Coração estagiário anti-corpo
Coração que cava um abismo

Coração vermelho semaforizado
Por malabarismos vãos
Em busca de centavos trocados
Dando adeus sem dar as mãos

Coração micareta mascarado
Coração que chuta virando a cara pro lado
Sonha em ter feito gol
Coração impedido que o vento o levou

Coração a migué
Sem eira nem beira
Coração deitado em chão de esteira
Freguês do mesmo cabaré

Coração agora estéril
AM e FM estéreo
Atrás das grades no corredor da morte
Coração amador e pungente
Que toda dor agüente
Que toda dor suporte

Ah! e essa tristeza que funga em meu cangote
Ah! e essa tristeza que me cria um mote
Rima simplória para dor aguda
Que o coração me acuda
Que o coração seja forte.

14 abril 2009

Aos trinta e três




Conte-me mais sobre o motivo pelo qual te alegra tocar minhas mãos ao deitarmos, dê-me mais, pois sempre é bom ter calma para viver os dias, eu sei que à noite nós iremos conversar outra vez e concordaremos num mesmo ponto, você não mais me vê como seu, eu não mais vejo o que existia de ontem em você. Apaixonante, era apaixonante nos ver, agora eu vejo você se afastando, porque sou eu quem está partindo, aos poucos estou deixando coisas para trás, o tempo cai pelo chão a todo o instante, escorre entre nós, nossa memória esqueceu-se do que nunca deveria ser passado, e eu, que passei os anos à procura do que me fazia feliz, agora passo mais um sem encontrar o que quis. Foi uma manhã triste a de hoje, uma terça-feira como outra qualquer, não fosse o dia 14. Eu nasci aos catorze dias do mês de abril de um ano do qual não sei nada, em 76 eu nem era eu ainda. O desejo de sentir frio superou meu amor pelo calor. Outro capítulo, outro ano, e a mesma busca, a mesma vida, é sempre a mesma vida, como sou imaturo. Até quando serei? Parabéns para mim, que há trinta e três anos odeio vê-los passar...




شهريار


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08 abril 2009


"Música é somente vibração de ar.Livros são apenas emaranhados de letras.Pintura é a mistura de cores sobre uma tela.Uma fotografia é apenas a luz sobre um papel sensível.E mesmo assim essas coisas conseguem tocar a alma.E tem gente que não acredita em magia".

O desterro e os óculos


Pressão alta é morrer sem ter vontade, pressão baixa é querer dormir sem nem ao menos ter sono. Eu, experimentador que sempre fui, enjoei de tanta dor para experimentar e tentei o gosto do leite com sal, tentei o que nunca soube, mas esse sabor não me pareceu bom, então eu, experimentador que sou, quis entender o mundo dos que se escondem atrás de lentes, e experimentam enxergar como poucos desejam, não as das câmeras, que captam a alma dos que sabem vida e aprisionam o prazer de se estar vivo em cliques feitos de desejos e ternura, ou em vídeos, filmagens amadoras ou não, transeuntes de um espaço sem liberdade, mas as dos óculos. Na época de escola tive uma professora que se escondia por trás das lentes de uns que nunca embaçavam, era loira e linda, por ela passei grande parte da minha adolescência com um amor vestido de vermelho-ciúme enroscado no meu coração, e isso ela sabia, pois sempre que lecionava, falava, falava e gesticulava em acenos perfumados de claros cabelos, e quando baixava a cabeça para suas averiguações didáticas, suas lentes nunca conseguiam esconder o ligeiro lançar de olhos em mim. Sorria-se tímida, talvez se lembrasse do filho que nunca tivera, quem sabe me imaginasse mais velho, isso me fazia ter vontade de usar óculos para eu saber se também conseguiria plantar nela o mesmo interesse que tinha eu, talvez um toque de maturidade poderia me ser acrescido pela serenidade das lentes. Foi ela a primeira que me explicou pressão arterial, os efeitos do sal, a corrente sanguínea, mas eu, só conseguia sem disfarce olhar para seus olhos, também nus, atrás daquelas lentes, por isso nunca entedia uma só palavra do que me falava quando se inclinava à minha mesa. Minha dor era a professora de português do outro turno, o vespertino, que sempre chegava com lentes embaçadas numa, quem sabe, proposital tentativa de ouvir algum aluno mais gentil se oferecer para limpá-los, pensei em denunciar na diretoria, parecia feio aquilo, acaso não havia homens mais velhos para tal vergonha? Queria eu poder fazer o mesmo com a minha musa loira, adepta das lentes de correção. Quase duas décadas se passaram, e então um dia, assistindo o telejornal local, vi a notícia de um acidente na volta de uma praia famosa daqui, e entre os que se foram naquela tarde fatídica, um corpo tinha sido dado como não identificado, não se sabia nada deste, aparentemente sem documentos, nem bagagens, nem fotos, ou qualquer coisa que pudesse auxiliar na identificação. Dois dias se passaram e após ter sido tal corpo enterrado como indigente, um simples ninguém, um que foi e se foi, sem nunca ter sido, a notícia final de que conseguiram – prefiri não pensar como – identificar quem era a pessoa morta no acidente me chocou grandemente e me fez entristecer na alma. Seu nome era Cláudia, uma foto foi achada dois dias depois no local do acidente, em meio aos destroços. Parentes e amigos reconheceram, ela estava de óculos e havia também há pouco tempo perdido uma gravidez de oito meses. Essa foi a imagem que ficou dela comigo para sempre, desde o colégio, um filho que nunca tivera, eu triste por nunca ter sido mais velho, ela loira, linda, e de óculos, estes, nunca embaçados, só para isentar-me da possibilidade de me oferecer para limpá-los. Hoje, tudo o que queria era chorar uma saudade com lentes, e esquecer o meu desterro, sei que ela jamais chegará a ler isso, mas eu, ainda posso usar óculos e talvez embaçá-los com essa minha saudade. Pressão alta é morrer sem ter vontade, pressão baixa é querer dormir sem nem ao menos ter sono. Eu, experimentador que sempre fui, enjoei de tanta dor para experimentar e agora posso usar óculos, como sempre quis, mas agora é tão tarde.

Crise


Nunca gostei dessa coisa de não haver um único eu. Todos nós somos muitos, coração, alma, corpo, espírito, razão. Não me agrada a idéia de obedecer ao coração, dar satisfação à voz da razão, ceder ao que pede o corpo, não saber entender o espírito, ou agir só com a alma, simplesmente queria eu ser um só. Somos várias partes que no fim formam um todo. Se você me perguntar do que gosto ou o que quero, precisarei de uma assembléia com as outras partes de mim, e pra ser sincero, estas partes sempre falam em línguas diferentes...

Lugar comum (Para aquela que me chamou de clichê)


Desperte e me veja com a perna por cima de sua cintura, viva comigo, ande ao meu lado pelo caminho de volta pra casa, me ouça falar desinteresses à mesa de um bar, ouçamos música durante a espera pelo sono, nunca mais tinha feito isso, vamos juntos ao circo, te contaria sobre minha época de palhaço e você riria mais do que com os do show, compremos presentes de última hora para nossos pequenos, finja pra mainha que gosta de novela, comente sobre com ela, perca horas conversando com minha vó, espante-se com suas lembranças tão longe, aceite cantar enquanto toco, beba mais um pouco comigo, conheça a minha vida, arrisque falar que me conhece bem pros meus melhores amigos, deixe que eu conheça tua vida, faça-me rir sempre e me apaixonar pelo seu bom humor, consiga que eu te provoque o riso, só para ver teu sorriso, converse deitada comigo, brinquemos de andar pela sala sem acender a luz, tão somente para ver quem reconhece mais nossa casa, perca a vergonha em eu te ver chorar durante o filme, não espere só eu sugerir cinema aos sábados, diga que adora dançar comigo, beije meus olhos, me morda sorrindo, goze comigo mais do que no sexo, gozemos da vida, leia o que te escrever, guarde todas as minhas cartas de amor, me faça gostar dos seus amigos, será fácil, olhemos juntos nossas mais antigas fotos, me dê uma filha, aceito filho, filhos, busque sempre minha mão enquanto caminhamos, fiquemos calados por longos minutos, falemos com os olhos e quase sorrisos, viajemos de novo pra praia, deixe-me cozinhar vez em quando, fotografemos sem parar, a mim, a você, a nós, aos outros, todas as coisas e pessoas, me conte sobre onde nasceu, ouça-me falar do meu tempo de escola, vamos rir com nossos novos amigos, briguemos, e nos desculpemos, vivamos. Desperte e me veja com a perna por cima de sua cintura, viva comigo, fica ao meu lado, agarremo-nos à vida para nunca mais cairmos, mas lado a lado, como pregadores do mesmo varal, conheça-me, só então poderá me chamar do que te for aprazível...

O amigo, o amor e a dor




Sei que ninguém é feliz sozinho, mas basta termos amado uma única vez para que sejamos para sempre arranhados pela tristeza.

Amor extra




É sempre o mesmo sentimento. - Amor tecido de palavras -, não há abraços, nem de despedida, nem de chegada, e a pele nua. A gente tem cuidado dos nossos dias, mas nos esquecemos de cuidar da gente, vestir os dias. Os dias... Estes cuidarão de si mesmos, importa que nos importemos com o principal: teu abraço caber no meu abraço. O abraço é o laço do corpo, enfeita os amantes qual caixinha de surpresa. Nossas vidas são adornadas no momento do toque, no enlace. Abraça-me, pois a falta decidiu esculpir em meu corpo uma forma que não é minha e me deixa nu a todo instante, nenhuma roupa mais me cai bem. A solidão cortou meus cabelos e me cobriu com outras vestes, fazendo da saudade minha melhor roupa de sair. Sinto falta de ver vestir você a minha pele nua...

Daquilo que ofusca


Quando teus pés tocaram meu mundo todos te notaram, havia um bando de estrelas, destas sem sorte alguma, que te seguiam por onde quer que fosses, diziam tentar reaprender brilho, e confesso que em ti havia muito. Teus olhos pariam luz para todos os lados e cegavam os meus diante de quaisquer outros, nos cabelos, um raiar de sol incomodava escuro, eram a ausência de cores mais terrivelmente brilhante que já me escorreu por entre os dedos. Teus lábios me confundiam os sentimentos, que, um a um pulavam de dentro da minha para a tua boca... a tua boca, brilho doce em molhados aromas de frutas destilando prazer em sabor de beijos. Teus brincos, pulseiras e colares, ofuscados eram sempre de constrangimento ante tua presença, “próximos demais dela estamos”, diziam, e saindo do tom em opacas tristezas, se diluíam em mareados de lágrimas. Na tua pele, a jovialidade pálida de outrora cedia sempre lugar ao rubor experiente da minha carícia em arrepio de gemidos, eram as reações de química mais cintilantes que já me ocorreram às vistas, e eu, cegado por tua luz que fui, ainda assim tive a chance de continuar percebendo as muitas estrelas que te acompanhavam aonde quer que fossem teus pés, de início eram poucas, hoje, constelações inteiras se reúnem em torno de ti, para depois de muito suspirarem, metade precipitar-se ao solo, apagando-se quase que para sempre tal estrelas sem fé, e metade, uma a uma reaprender brilho, este que nunca te faltara. Quando teus pés tocaram meu mundo todos te notaram, havia um bando de estrelas, destas sem sorte alguma que te seguiam por onde quer que fosse, diziam estas tentar reaprender brilho.

Nuances





Ela ficava bem de preto, nós pensávamos branco, agora prefiro não usar nada, ao menos quando me deito. Ela tinha uma voz não invisível ao me assoviar seus nomes, e eram tantos, alguns gerados em apelidos. Eu, distante de tudo o que é feliz, nunca acertava assoviar-lhe o meu, não pra fora, como o convencional, alguns poucos sons se ouvia, mas só quando eu tentava pra dentro, coisa desimportante. Um dia, ela em falsete solfejou meu nome ao ouvido, um que jamais antes ouvi, e chorei, pranteei muito e tanto. Meu nome era uma música triste, a melodia me partia o coração, quis não gostar, mas era linda a canção, passei assim a todos os dias pedir que me chamasse pelo novo nome, esse que eu não conhecia, era sempre na hora de dormir. Parecia que a dor que sentia me trazia contentamento. Hoje, queria nunca mais te ouvir musicando meu nome, poetizando meu nome, mas isso soa tão difícil, mesmo pra mim, que já não acredito nas coisas que escuto, quis tampar com as mãos os ouvidos, desisti. De ouvidos tampados eu também te ouço.

Durma, medo meu


Para aquela que não entendeu o mundo antes de partir, não entendeu ser mãe, sem saber amizade viveu, morrendo, não se sabia filha. A dor brincou em frente à sua casa e então resolver visitá-la, entrou, mas nunca mais saiu, mudou-se de vez para lá, agora dorme lado a lado com a saudade que ela nos deixou de herança. Vou arrumar uma cama bonita, quiçá um berço, para que essa dor durma menos leve do que nós. É que toda dor acorda quando fingimos dormir.

03 abril 2009

Da janela


De quando eu te fazia morada pouco resta agora, já não há regozijo em te ver passar em frente à nossa janela e avisar que chegou, fingindo sempre se esquecer da chave só para que eu vá te receber. Abro o portão para que entre, mas tranco o meu coração e engulo a chave. A casa ainda é por nós ocupada, mas vazia agora está tua alma, eu fui embora de ti. Quem vai morar em você agora?

De ontem em diante


Quem é você? Onde você mora? Onde mora o teu coração? Quem mora no teu coração? Eu te conheci, mas não mais te reconheço, coisa estranha uma metade de nós mesmos, companheira de quase uma vida, vir a ser uma estranha. Quase... sempre essa palavra, repetidas vezes a pronunciei em silêncio ao teu lado, do meu lado, até perder o sentido, não mais palavra então, apenas fonemas mal pronunciados em desalinho com teu silêncio, ditas de fora pra dentro. Quem vai me responder quando a solidão cortar teus cabelos, quem vai te ouvir quando a dor roubar os meus? Onde você estará quando o tempo fizer franzir sua testa contra a tua vontade? Quem estará ao teu lado, e dentro de ti?
Tendo-te ou não ao meu lado, um caminho ainda existirá para mim...

Respostas


Todas as pessoas, das tristes às felizes, elas não sabem viver sem respostas, quando querem se preparar para a vida, estudam, quando vivem sem se prepararem, são ainda maiores as dúvidas, se a morte, sem aviso lhes rouba alguém que amam, não entendem e seguem num ritual infindável e sufocante de questionamentos que com o tempo apenas tornam-se maiores. Uma vida sem muitas respostas é uma casa com grandes janelas que apontam para a mesma paisagem, caso queiramos enxergar o que existe do lado de fora, não importa a escolha, de qualquer uma que olhemos, a vista será sempre a mesma.

Mudanças




Tão quieto era teu sono que eu quase te ouvia sonhar, mas o tempo está passando e agora te ouço em brincadeiras com coleguinhas de colégio e amiguinhas da vizinhança, já não sei o que tu sonhas, nem onde e quando aprendera o significado da palavra “problema”, tua pouca idade ainda faz tua morada na infância e eu esperava que isso nunca mudasse, mas os anos virão aos poucos roubando o melhor da gente, a inocência. Sê criança pra sempre meu amor, pois a estas pertence o Reino dos Céus.

Solidão assistida


Eu já senti felicidade da que todos percebem, já perdi o senso de direção andando na rua, já me ocorreu satisfação incontível das que rasgam em sorrisos dentário-exibicionistas, algumas dessas sensações vestem pijamas quando me deito e passam a noite disputando o cobertor comigo, meus pés descobertos e elas rindo, rindo, rindo. E eu, que por medo do dia amanhecer e outra vez ficar sozinho, passo o dia com saudade das coisas que posso sentir e simplesmente não sinto. De manhã, quem me desperta é a solidão...

Abraço


Teve uma vez um abraço, um que eu nunca esqueci, foi o único que me coube por completo. Então aprendi como isso era bom. Mas parei de abraçar. Digo, não sei ao certo quem parou, se eu, ou a outra. Foi quando desaprendi tudo de novo. Fiquei burro de abraço, nem mãe, nem pai, nem amigos, sequer irmãos, e por último, sobrinhos. Burrice de abraço requer muito estudo para curar.“Admiro a sanidade saudável dos braços inteligentes.”