Uma mosca noturna pousa em meu braço
Livre do abraço de alguém
Pousa em minha alma
Repousa em cansaço
Repousa com calma
Espanto-lhe o bem
Vagando a noite entre o espaço
Voando com ânimo escasso
Deseja o contato porém
Não é bela nem voa em compasso
Não a permitem sentir o melaço
É rejeitada e morta também
A boca do copo é o que resta
Da porta o que sobra é uma aresta
A beirada da mesa, a beira do abismo
Se tivesse boca emboçaria um sorriso
Se um doce a convidasse pra festa
Império de gigantes e feras
Veneno em pequenas esferas
A mão de ferro, a espreita
As jacas transmitem suspeita
Plantas carnívoras, aranhas
Sapos, lagartos, louva-a-deus
Adeus mundo cruel, adeus às sopas
Camaleões, não comem leões
Comem moscas
Nossas conhecidas toscas
Que gostam de mel
Mas o amor não as sufoca
Sangue, suor e lágrimas
Não são fluidos de mosca
Não se preocupam com rimas
Elas nos acham lentos
Mesmo com tantos talentos
Tantos sentimentos
Moscas não choram por dentro...