Advertência!

O conteúdo deste blog pode, literalmente, projetar você para algum lugar no tempo-espaço...

Translate

25 outubro 2011

Sobre um Livro de Comentários Perdido


Hoje reli coisas antigas no tempo, reli e me impressionei comigo mesmo. Por vezes acho-me gasto como grafia de caneta borrada, por gostas de água de uma biqueira alta, com ares de carrasco. A impressão que tenho é a de que minha estrela não brilha mais tão intensamente como antes, como num lapso desesperançoso, em uma cadeira de rodas imaginária, usando um cachecol que não combina com nada mais além de um desconforto iludido, expirado pra fora do peito (suspiro). São tantas mensagens positivas, tantos depoimentos, tantas palavras de força, de carinho, de admiração... Tanta coisa boa que não me ajudou nem sequer a atravessar uma rua... Pois infelizmente só eu mesmo poderia me ajudar, e acredite, eu tenho achado finalmente que isso é uma boa idéia. Agora estou rindo de mim mesmo num sorriso como tantos em minhas fotos, porém, só por dentro.

Acho-me asno por ser tão teimoso, acho-me teimoso por ser tão taurino e a culpa é toda do zodíaco, não minha, prefiro categoricamente me eximir dessa culpa, porque culpa é o que eu mais carrego, e não há mais espaços sinapticamente vagos, não há. Eu queria acordar numa ilha deserta, eu, uma mulher que eu ame e muitas planícies pra vadiar, mas a vida não é um sonho, na verdade nem o sonho é um sonho, o sonho é um desabafo simbólico do inconsciente. Enquanto isso vou me descobrindo entre problemas e não posso apelar para um super-herói qualquer, meus heróis são meus pais e um cara que me cobra por hora pra me falar verdades das quais eu preciso ouvir.

Sinto-me um besouro ricocheteando numa lâmpada econômica de 60 w, economizando pro amanhã, guardando energias, adiando a felicidade por acreditar em acordos de boca fluorescentes.
E para aqueles pra quem me dediquei em vão eu vos digo: Cuspa na minha mão como em Batter town, corte sua mão junto a minha, em pactos de sangue frágeis, e as ciganas não enxergarão mais nenhuma linha dominante nelas. Me enrole, me engane, finja, interprete malmente sua verdade e eu prometo partir no próximo ônibus espacial pra fora do seu planeta cosmicômico. Me colecione como eu te venero, esbarre em mim como eu me atirei em você e então estaremos quites, mas antes despedidamente, me olhe nos olhos e me ejete pra longe de uma vez, porque o muro se cansa do grafite assim como a falésia se deixa levar pela água, sem que esta arranque dela nenhum punhado de admiração.
Não peço nada em troca além de proporcionalidade exata e cativa. E para aqueles por quem me dedico de bom grado eu vos digo: Obrigado pelo carinho!

12 outubro 2011

Mariposa


Sua luz me atrai como uma mariposa fascinada, dando rasantes circenses em seu mundo perfeito. Atraí-me pra perto, envolve em milhões de teias de sorrisos imantados, em seus pares de coxas expostos, na sua boca nervosa, em teu semblante plácido. No subúrbio dos teus olhos libidinosos eu choro uma chuva de equívocos, no teu toque eu me arrepio e subo 2 graus centígrados. Uma mácula esbarra em meus planos, uma muralha, e eu te vejo através das grades da iniquidade, um passeio pela cidade à noite me faz lembrar teu rosto, as luzes dos postes passam por cima da minha cabeça pesada só pra me lembrar de que você é impossível, sinto vontade de te ver no banco do carona me fazendo rir um sorriso que ninguém mais me arranca da face congelada.

Mas o que eu julgava ser especial pra mim, vindo de ti, é corriqueiro para outros, a intimidade doada a mim é vulgar, é dessas medidas ínfimas de quatro casas decimais, quando se comparada a outros, e se esquivo a boca para moças que me querem é só porque somente cabe a ti em meu peito. Assim estou indo aos extremos até fugir da sua tangente, me perdendo, me anulando em troca de um néctar que só você produz e eu tenho que voar por perto, e você sabe que é igual a mim nos detalhes, e que falamos coisas ao mesmo tempo, e que completamos nossas frases e nos entendemos num só olhar. E eu sempre volto atraído por tua luz, e me sinto sujo por te desejar, é o ciclo teimoso da morte do meu ego, é a improbabilidade das minhas antenas ultrapassadas, é a dicotomia de dois sentimentos em peleja.

Somos todos insetos entorpecidos.
 
Só o que me cinge é o desânimo fatídico e talvez já famigerado para bons olhos de observador, qualquer um pode perceber a lassidão no meu olhar quando meu queixo fica prostrado pra baixo e meus ombros desabam se alguém te toca recebendo de ti permissividade lasciva. Chega o tempo que a dor nas minhas asas é maior que o bem de tua luz que me ilumina, é hora de me recolher, é hora de desistir perto da perciana, encolhido no canto da parede esperando alguém abrir a janela pra que eu possa voar pra longe, bem longe de ti.







15 maio 2011

Dualidade




Uma parte de mim acredita a outra faz “tis!”, parte de mim estremece a outra torce o nariz. Parte de mim abandona, a outra sonha ser aclamada, Parte de mim me engana, a outra anseia ser amada. Parte de mim me enrola, a outra me abomina, parte de mim se joga e a outra me ensina, partes de mim partindo para destinos tão distantes, num aceno de mãos sem fim, em ciclos eternos constantes.

Parte de mim grita e a outra se cala, parte de mim exagera, a outra desmaia, num vulto envolto partes de mim se chocam e se anulam, num suspiro morno partes diferentes de mim que se aturam.

Então me parto em pedaços escusos, em partes perdidas, em cacos noturnos. Parte de mim se parte, e a outra parte, não tem mais como ser partida. Parte de mim me invade e a outra parte se vê derrotada e vencida. Parte de mim é inexata e a outra é medida.

Parte de mim é inverno e a outra verão, parte de mim é partilha e a outra solidão, parte de mim é inferno e a outra comunhão. Parte de mim a arte de partir-se no chão.

14 abril 2011

Trinta e cinco

Quer saber? Eu sinto saudade, e isso é tudo o que sinto. Saudade... assim, como quem já não vive, como quem foi esquecido, coisa semelhante ao que se apagou das lembranças de outrem. Um trem que parte levando metade da gente, um aceno de mão que nunca deveria ser dado, um pedaço de meias verdades ditas sorrindo, só para iluminar a foto. Mas era menos complicado saudadear na infância, afinal, isso só durava uma tarde, e na noite e manhã seguintes eu reencontrava as duas da minha vida: a irmã mais velha e a amiga. Saudade era uma brincadeira de vida curta, agora tudo se tornou durável e o sentir falta é estado latente, instante, e entristece tanto. Preferia não entender o ponto em que isso mudou fazendo brotar em mim essa idéia constante de falta que só aumenta com o aumentar dos anos, e quando estes já somam trinta e cinco, as saudades todas já não mais cabem em uma cidade de oitocentos mil habitantes.
Vejo agora que a cada ano acrescentado à minha vida, proporcionalmente são também acrescidas novas saudades e porções a mais das já existentes. Saudades de uma casa azul desbotado, de uma rua calçada, de um campo de futebol de terra batida, de amigos com dentes de leite, de sessões de sábado, de Jairzinho e Simony e Balão Mágico, de refrigerante Taí, de DipN'Lik, Iô-iô, de claramente ouvir a voz de Deus, mesmo sem saber quem estava falando comigo, de ficar feliz em ver Taizinha sorrir, de passar o ano esperando o Natal e os poucos presentes. Trinta e cinco anos se passaram, e hoje eu me acostumei com a dor...

03 abril 2011

AABB

Ainda me lembro daquele brinquedo de girar, presa na minha cabeça aquela imagem gira e gira sem parar no tempo espaço, em algum lugar do passado de um clube que eu frequentava, brincando com amigos ouvindo uma música no rádio que saia de um alto-falante preso a um poste, numa caixa preta.  Um atalho pro passado, pra um local inacessível  aos outros , acessível a mim somente dentro de minha cabeça, tardes em que o sol estava preguiçoso e não queria aparecer, tardes azuis, poucas núvens e vermelhas ao sol se por.  Toda aquela vida passando devagar, muito menos violenta, muito menos bitolada, muito mais sinestésica, tete a tete e propagandas interessantes na tv.

11 março 2011

Resquícios de mim



Eu namoro as letras, já não há mais moças direitas a namorar, a minha grama está seca sobre um solo despojado de encantos. Tudo que eu queria me falta, toda a sobra do que não quero vêm me abraçar, as esquinas se curvam às ruas hoje estranhas a mim, um carro vai veloz com um sorriso de alguém no interior dele que nunca mais passará por aqui. As velas só derramam sua parafina despendida pelo fogo, meus olhos só derramam minhas lágrimas desprendidas pelo coração em chamas. Tudo em que acredito não se aplica a mim, meu tempo nunca chegou, minha canção esta arranhada em algum vinil perdido no passado.

Minhas luzes me abandonam, meus sentidos zombam de mim, meu instinto me trai tão distraidamente quanto um cachorro no jardim de um hospício. Minhas peças estão em um tabuleiro de xadrez gasto como se eu enfrentasse Bobby Fischer e estivesse sempre em xeque, meu cantil não tem mais água, minhas idéias voam como na cabeça de Chris Mccandless. Na minha caverna eu me esquivo como Platão, em suas fendas eu me encerro como William Blake e me revigoro ao sobreviver como Daniel na cova dos leões.

Nada me interessa, nada me motiva, abençoado seja o controle remoto e as pilhas alcalinas, pois bem, adoro os olhos de quem sabe fazê-los brilhar intensamente mesmo sem destino.

Minha caneca preferida está rachada, assim como arranhado está o meu espírito, me apoio em mim mesmo como um hipocondríaco delirando ao adentrar uma botica esplêndida, me enxergo amanhã como nunca me vira antes.

Deixo-me especular sobre os meus próprios sonhos, me deixo roubar a mim mesmo, puxando um Ás por baixo da minha outra manga e mesmo assim, me surpreendo como sou sincero e íntegro não a mim, mas, por conseguinte a ninguém. A vida é um jogo, e o crupiê que da as cartas pegou num sono profundo.