Advertência!

O conteúdo deste blog pode, literalmente, projetar você para algum lugar no tempo-espaço...

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30 junho 2008

As Portas do Tempo

A porta do passado está se fechando e você tem pouco tempo... Ela é estreita e grossa, pesada e veloz, quando olhamos pra trás a vemos se fechando.
Quando olhamos para frente vemos a porta do presente, e mais a frente desta, a porta do futuro, num corredor ora claro ora escuro.
À medida que caminhamos entre elas, por entre estas portas, somos seguidos por uma luz de certo fraca, pois se trata de uma vela que não nos deixa enxergar muito adiante de nossos próximos passos, nem muito atrás de nós.
Toda porta do passado que já existiu e se fechou, um dia já foi uma porta do futuro, e também de um presente, todas elas sem exceção, então não esqueça nada de que possa precisar no futuro cair ao chão e ficar trancado lá atrás da porta do passado, pois ela se fechará e jamais será aberta novamente.
Não esqueça nada, não se esqueça de fazer nada nem deixe algo pra depois, pois o depois não há como ser alcançado.
Então me diga se você tem vivido intensamente; se suas fotos têm marcado épocas; se as épocas têm sido marcadas por músicas; se as músicas te lembram alguém; se esse alguém te fez ou continua te fazendo feliz; se seus amigos te rodeiam; se é redundante dizer que os quer por perto; se a distância atrapalha; se você às vezes quer seu espaço... Diga-me se há algo a ser feito, a ser mudado; se você tem mudado; se a imaturidade se tornou cada vez menor e a maioria das suas ações tem sido mais humanas, mesmo com mais planejamento; me diga se há uma auditoria em sua alma pra organizar tudo o que deve sentir, ou para mover peças chaves; me mostre se a cave que abre o seu coração não está gasta por funcionar como numa fechadura de um cofre. Puxe com você a pessoa certa para atravessar as portas do futuro, deixe as erradas para trás, elas encontrarão outro alguém e outras portas.
Porém, se sua luz (lanterna vaga-lume encandescente), puder queimar mais forte com a parafina "made in" sua força de vontade motriz da mudança, aquela sua porta do passado poderá ser daquelas de se admirar e permanecer aberta pra se ir e vir conforme a vontade, sem aquela sensação de algo pesado... Você tem 2 portas a escolher, qual lhe parece melhor?


26 junho 2008

Uma rua chamada saudade



Descendo na contramão dos carros, tendo os pés fugindo da vista, pelo mesmo passeio que sabia de cor a medida dos meus passos, lá vou eu para o trabalho outra vez. O Biongo era um bar que dava gosto em frente passar, quando era este do outro lado da rua vinha muita gente repensar a vida nas cores de suas mesas e no frio dos seus copos que imitavam cristal, jovens corações amantes, perdidos de paixão e desejo se entreolhavam com juras de amor sem fim, ignorados pelos garçons suando em desespero de verão, e que em meio a malabarismos de bandejas tentavam sorrir pra disfarçarem a confusão quanto aos pedidos e numerações das mesas, agora, esse mesmo ambiente antes fervilhante de sorrisos e conversas vespertinas, nada mais é que uma tentativa agonizante de manter-se funcionando sem clientes, tudo culpa do proprietário. Sempre gostei como os olhos dos boêmios se perdem antes mesmo de chegarem à esquina, não enxergam nada que possa ser visto, apenas o que ninguém mais vê é percebido. Em frente à casa de Pedro Henrique, o que antes era a de Lucciano, agora fomenta o comércio e o desenvolvimento no que outrora era moradia de sonhos e vidas radiantes, um bairro conhecido pela calma e cumplicidade de seus moradores, vizinhos que estendiam as mãos para acompanhar o “bom dia”, hoje, apenas lembranças no concreto que muda suas formas sem perceber a dor no coração da gente. Uma clínica no lugar onde aprendi a ouvir meu silêncio, dois ou três escritórios no lugar onde escrevi minhas primeiras cartas de amor, advogados e seus sapatos sempre muito limpos disputando espaço onde antes eu rolava de rir e corria do perdigueiro que era o xodó de todos. A grama ainda existe, mas guardada por muros mais novos, daqui, do outro lado da rua, posso avistar o mesmo abacateiro de folhas grandes e tristes, que ainda hoje, se olho muito, choro, também sinto falta dos coqueiros que me falavam das suas saudades de uma ilha que jamais conheceram e do afiar de unhas do gato Tygra. E foi em frente a esta agora clínica que encontrei um contemporâneo tão saudosista quanto eu, não o percebi por andar sempre olhando pros meus pés, mas ele me chamou, e quando fraternalmente me abraçou disse que chorava sempre de saudade do nosso tempo de sol brilhante, rimos um pouco de algumas boas lembranças e nos entristecemos da dor da adultice crônica, mas já acostumados somos ao fim das coisas.
Ainda posso ver Fábio correr para a esquina, só para imitar o avô reclamando do contador de luz, ele podia fazer isso o dia todo, que ainda à noite estaríamos gargalhando. E lá vou eu pelo passeio onde aprendi a ter o coração cheio de sonhos e nunca deixei de entender os motivos de se ter os olhos rasos d’água.
Descendo na contramão dos carros, tendo os pés fugindo da vista, pelo mesmo passeio que sabia de cor a medida dos meus passos, lá vou eu para o trabalho outra vez.



*Taygra afiando unhas



25 junho 2008

De dez em dez





O que mais me preocupa nessa vida é a incerteza de quem eu vou ser daqui a dez anos. Toda vez que penso uma década, sinto uma mudança tão sutil que nem parece que mudou coisa alguma, daí o gostar de pensar em dez anos para trás. Em 98 minha fé era viva, em 88 eu era feliz ao som do Balão Mágico, em 78 eu também era atração em casa. 88 foi o ano em que vesti forçadamente uma camisa do Bahia, esse foi o estopim para torcer pro Vitória. Seu Benedito, o que me presenteou com tal desacerto já não mais vive, morreu no ano de 2003 sem que eu jamais tivesse coragem de passar por ele com uma camisa do rival do time que ele adorava. A cada década que volto rejuvenesço dez anos, mas não no corpo, fico jovem na alma, faz vinte anos que meu coração bate pelos mesmos motivos, meu temor-mor é que daqui a mais uma década eu desaprenda o caminho da volta, quiçá assim eu me perdesse pelo caminho e ficasse ali, no meio da estrada, queria me perder perto da década de oitenta, juro que nunca mais eu voltava pra hoje, muito menos pra amanhã...