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24 novembro 2005

Linhas de expressão



Recordava-se agora que era velho, era velho mas sua mente era jovem, ali sentado ao banco de uma praça qualquer, entretido com o vai e vem das pessoas, olhar eclipsado, calmo, terno como um cervo, terno como o brilho de um espelho d´água plácido... Lembrou-se do tempo em que temia a vida e o futuro, lembrou-se das incertezas dissolvidas com o passar do tempo, dos anos... Estava amadurecido, entendia agora o sentido das coisas que o cercava, diferentes mas seguindo um mesmo princípio.
Quase não fumava, mantinha estendido nos dedos o cigarro como algo ilustrativo, sua presença era o bastante, num desses momentos em que nossas mentes viajam em pensamentos felizes, fumar era o que menos importava... Lembranças, ahh as belas lembranças, todos nós as temos guardadas em nossas mentes. Certas vezes esquecemos delas, outras vezes são apagadas pelas dores. Esse velho senhor sentado ao banco estava mais radiante que de costume, a vida o ensinou que a sincronia “homem e tempo” só se torna absoluta quando a idade avança, é uma forma natural de compensar a perda de um ritmo cósmico e físico mundano, o tempo não, este não se sabe nem se estabelece idade, então decidiu ser como o tempo, ser implacável e forte, decidiu viver eternamente como ele nas cabeças de quem lhe foi próximo e íntimo.
Cada ruga – pensava – valia a pena, cada dobra, cada expressão, cada falha momentânea de memória, almoçar com uma colher das de chá?¹, cada segundo pausado por recordações, cada dor lombar e tosse insistente... Mais insistente era ele, ancião saudosista e não melancólico... Melancólico apenas quando chovia à noite. Plantar árvores?² Mais valia plantar alegrias nos corações humanos, pensava ele. Seis da tarde, hora de voltar pra casa e no caminho, a padaria o esperava como um velho amigo imortal.

¹ Quando se vai fazer uma refeição e escolhemos na gaveta, os talheres errados por algum motivo desconhecido.

² Referência ao ditado no qual se diz que um homem antes de falecer, deve: ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore.

11 novembro 2005

Surreal



Um raio de luz me trouxe aqui, 2 segundos antes de mim mesmo e quando nos encontramos, eu e meu corpo, tive esta visão:
Vi uma torre imensa, feita de soluços e hesitação, pendia para os dois lados ao mesmo tempo, havia uma parte de esperança e comunhão que estava fixa como rocha, untada com uma liga de amizade que não se vende mais em potes como antigamente... Uma legião de anjos e pessoas normais conduzia um arado faraônico abrindo uma rastro na terra pra poderem sujar os pés com natureza de verdade, neste momento começam a rolar gotas das lágrimas de um dragão sentimental, todos o chamam pelo nome mas ele se sente rejeitado em sua caverna escura, trazem lhe uma vela branca de 7 dias mas ele explica que sua semana dura 1 século... Trazem-lhe um feixe de néon e ele explica que não enxerga o lilás, agora trazem-lhe todas as cores e o dragão sorrindo aquece seus corações... Todos em volta da vila pisam a terra, pés de pisar em Marte, sorrisos de elfos mortais, as gotas agora caem pra cima, molham o meu queixo. Enquanto isso desce da montanha de grama um velho tuareg com asas de Ícaro e um manual com letras escritas em punho de "Como levantar do chão estrelas cadentes". Eu continuo na minha escrivaninha imaginária com cadeira de gesso frágil escrevendo e escrevendo, a água retorna às nuvens e as nuvens retornam ao sopro mágico de algum Deus, que ficou compadecido com o pedido de um velho índio, que ficou comovido com a dor de um sertanejo que não tem avião de fazer chover, nem erva de fazer sorrir. Visto de cima o lago abaixo de meus pés parece um espelho, surgem bolhas, agora as bolhas descem para o fundo, alquimistas regam experimentos com estas águas e em tudo vemos água, líquido da vida... Em destilações fracionadas separam amor de ciúmes, ódio de paixão , felicidade de tristezas, dor de prazer e nada mais será confuso, a dúvida é só mera ilusão. Papiros nas mãos caminho eu até o raio que me esperava com a velocidade da própria luz, impaciente, discutia levemente com um sujeito chamado Escuridão que tentava sentar no seu lugar. Acordei com os pés no travesseiro e com a cabeça num mundo chamado de lua.