04 outubro 2004
La Dolly Vita
Posted on 10/04/2004 01:33:00 AM by Pedro Neiva
às vezes acho que sou um idiota, gentilmente percebo certas coisas, certas palavras aveludadas em tons de suavidade desprendida, em ritmo de brincadeira, talvez eu seja cego! talvez eu seja tolo "sou cego não nego, enxergo quando puder, só vejo obscuro objeto, desejo indireto, será que você me entende?" é ridículo quando você não se conhece... e é inútil pois somos diversos seres singulares para cada pessoa que conhecemos, algumas de múltiplas faces... ao menos sou assim, um estranho às minhas vistas, um viajante que toma o mesmo ônibus sempre, sempre para na mesma estação, quase sempre sozinho compra a passagem de volta... sempre pela janela enxerga a mesma paisagem num mundo pequeno, quase como "O Pequeno Príncipe" em seu planeta esférico, desgravitacional e florido apenas por uma flor, enquanto o mundo gira através das leis e aconselhamentos de "O Principe" de Maquiavel, um mundo seco... e no caminho de volta, talvez espera que alguém sente-se ao seu lado e mude a direção de sua vida. Alguém que desça do ônibus com ele e caminhe a pé ao seu lado, sem se importar com o tempo, mudando a direção... um viajante que escuta demais, que vê demais, que fala de menos e conseqüentemente se importa com tudo... se importa em ser agradável e gentil, doa o obséquio de não gerar lágrimas aos outros, mede milimetricamente as palavras pra que as mesmas não transmitam desconforto ondular ao ouvido alheio, um viajante que deixa troco, segue a mesma calçada e sonha em preto e branco, não acha graça em quem sorrir demais, um clandestino aceito por interesse momentâneo, passageiro, andarílho de 3 quarteirões, um Dom Quixote apeado num rocinante desanimado e dautônico...
Alguém que tem a impressão de que o telefone sempre toca quando se está ouvindo o som, e que acha que o alarme não vai conseguir despertar, não é tão radical dizer que o pessimista é um otimista experiente e arrependidio, acho que Schopenhauer estava certo, por que ser tão agradável? Por que suavizar os eufemismos?, não! o viajante não ganha passagem de graça, o ônibus não para na porta, passa ao largo, a vida não pede bença, não pede licença, não alivia, não anestesia, não pergunta como foi o dia, a vida não cede lugar para o idoso, não entende o silencioso, não empresta, não se doa, a vida não abençoa.
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