Há
tanta, mas tanta beleza no mundo, que sinto ser uma pena cada canto do
meu olho preocupar-se apenas com meu pequeno mundo. O beijo na testa do
"tenha um bom dia de trabalho" da esposa ao marido no despedir matinal, o
abraço materno do reencontro já deveras inesperado com o amado filho
desaparecido há vários anos, o desaguar lacrimal do irmão à irmã no
descer à sepultura, e todas as dores que a gente
aprende a gestar desde a hora de abandonar a barriga quentinha da mãe
até o descer à fria própria sepultura. Há tanta beleza no mundo,
fervilhando em dias líquidos de dor e tristeza, de aprendizados e
decepções, que fico triste de perceber só agora que todas estas belezas
que me somam à cabeça são num primeiro momento sempre tristes, todas
derivadas em tristeza, onde e quando foi que desaprendi a enxergar o
belo e a poesia na alegria? Sempre percebi a solidão alheia dos
transeuntes nos meus pequenos espaços urbanos e a pressa em viverem e
cumprirem suas vidas rumo ao fim inevitável, como ovelhas silenciosas ao
matadouro, vejo que tudo é tão vivo, tudo é tão rico, tudo parece
sempre tão belo e tão triste, tanta efemeridade, e cada canto do meu
olho só insiste em olhar sob meu próprio prisma... pobre de mim. Há
tanta beleza no mundo, que sinto ser uma pena que cada canto do meu
olho insista sempre em enxergar apenas o meu pequeno pobre mundo.
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