15 fevereiro 2017
Bem de longe
Posted on 2/15/2017 06:16:00 PM by Théo, desarmado por um sorriso..
Olha aqui, moça do cheiro de nuvem chorona, eu vou te
seguir, por aqui e ali, por todas as esquinas e ruas desperdiçadas pela falta que
sua presença desenha em minha vida, vou te seguir imerso nessa necessidade de
te dizer que quero que venha para minha casa quando for fim de tarde, para que
você possa entrar definitivamente em meus dias, e em minhas manhãs, nas minhas
noites, em todas as madrugadas, e até que o relógio do ponteiro sofra de
Alzheimer e desaprenda a mentir as horas. É que eu tenho esse problema no
peito, sabe, de me perder de paixão por tudo o que está pré-determinado a não
me querer, e o teu problema é não saber disso, ou daquilo, ou de nada que venha
de mim, a única coisa sobre mim que sabes tu é que não me queres, e mesmo entre
todas essas idas e vindas da vida, vejo que até hoje, você nunca veio aqui pela
tarde, ou pela noite, ainda que nua em pelo, nem de roupa alguma, e veja, vir a
mim é tudo o que esperava eu de ti. Um dia eu te vi ao longe, e acabei parando
pertinho de você fingindo procurar por aquilo que nunca perdi, um daqueles medos
que costumamos carregar nos bolsos de trás da calça, foi a primeira vez que
senti aquele cheiro de choro de nuvem que tua presença alva exala, e você não
sabia de mim, quem eu era, quem fui, quem eu sou, seria ou porque estava ali,
não me importei muito, tenho quarenta e quase um, e ainda não sei também. Tenho
assim quase quarenta e um, mas é um quarenta quase um, sabe, como um de uma
criança, bobagem comum a toda criança, tantos e tão poucos anos, e ainda também
não sei, mas quem sabe? Você bem já aprendeu que o mundo faz a gente chorar, faz
a gente chover para dentro, o mundo vai te fazer chorar, eu já chorei tanto, e de
todo tipo de tristeza possível que parece que já nasci ensinando, nem precisava
do mundo, e acabei alimentando em mim esse desejo perene de querer falar sobre
a tristeza, essa companheira fiel e inseparável de todas as horas, nela fiquei
especialista, eu não sei ser otimista longe do cheiro de nuvem chorosa que uma
vez senti em você. Olha aqui, moça que exala cheiro de nuvem que chora, eu vou
te seguir, por aqui e ali, por todas as esquinas e ruas desperdiçadas pela
falta que sua presença deságua em minha vida, e saiba que hoje foi o primeiro
dia do ano com algum esboço de chuva aqui na minha cidade, e aqui, bem aqui em
mim...
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