Mais uma
vez eu acordo no meio da noite, calor e travesseiro alto. Estranho a cama e a
vontade é a de cair num mar de esquecimento... Meu amor dorme tão dócil e terna
ao meu lado, que não há como não invejar o seu sono... Mesmo com todo o amor do
mundo uma parte de mim entristece hoje. Eu que sempre dormira demais, hoje me
encontro com a insônia quase que regularmente, eu, justo eu que nunca me
acertou a vontade da pontualidade - encontro marcado com o nada. Meu velho
inimigo voltou dos mortos, ele zune em meu ouvido, micro desmaios em minha
cabeça e um medo terrível de um não engajamento. O travesseiro vai se tornando
cada vez mais alto e a cabeça mais pesada, meu corpo agora se assemelha a de um
marciano de Orson Welles - O corpo pequeno, a cabeça enorme em grau de
atividade - estou sem campo de força que me defenda além de um mosquiteiro
furado. Flutuando em meus próprios erros, o teto agora me parece uma prensa
hidráulica.
É quando a insônia põe o dedo na minha cara, diz que sou moleque e me chama pra lutar, que eu compreendo os olhos arroxeados de quem não dorme.